segunda-feira, 25 de maio de 2009

Entrevista ao jornal O Mossoroense

Entrevsita concedida ao jornal O Mossoroense, no Caderno Universo de Cultura - Domingo, 17 de maio de 2009.
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MANINHO
Filho de pedreiro e uma professora leiga, Carlos Magno, mais conhecido como Maninho, é um homem que se pode designar, no mínimo, talentoso. Quando criança, costumava chegar em casa após o desfile do Dia 7 de Setembro, correr para um velho fogão "Jangada" azul e branco e lá, naquele baticum, produzir sons, que sua irmã Sandra diz que eram mais ou menos assim: tum, dá, tá, tá, tum dá, tá, tá, tum, tum, tum...
Depois, fabricou sua própria bateria com algumas tampas de latas de doce de goiabada, que se transformaram nos pratos. O instrumento rústico tinha inclusive um pedal que batia com ajuda de uma tira de borracha, um tambor deitado e um banquinho. Ali, fazendo zoada, ele depositava um grande amor e prazer.
Desde os seis anos, Maninho já inventava seus próprios brinquedos. Fugia das peladas com a meninada e ocupava-se em juntar caixinhas de fósforo, latas, barbantes e fabricar os seus preciosos carrinhos.
Hoje, aos 42, servidor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Maninho é um adulto com os velhos hábitos de criança. Além de ser baterista da banda "Arte Milenar", ocupou um espaço de sua casa com uma "oficina" de trabalho. Lá, uma estante de ferro guarda carrinhos em miniatura, alguns protótipos de modelos antigos feitos de papelão e alumínio com todos os detalhes. Para ele, além de hobby, os carrinhos e a música são a sua válvula de escape para os problemas do dia-a-dia.
Por Leilane Andrade
O Mossoroense - Além de trabalhar na Ufersa, você possui alguma outra atividade?
Carlos Magno
- Não. Só mantenho o meu hobby em fazer carrinhos em miniatura e toco bateria em uma banda composta de amigos, chamada Arte Milenar. Também tenho alguns desenhos que faço no computador. Tenho um blog (www.maninhodesenhos.blogspot.com) onde posto alguns desses meus trabalhos. Pretendo em outubro deste ano, quando concluir este meu trabalho, fazer uma exposição na Ufersa, durante a Feira do Livro que a biblioteca de lá promove todos os anos. Já falei com a bibliotecária e ela ficou maravilhada com a ideia. Vou levar para esta mostra mais ou menos 30 carrinhos, que são protótipos de modelos que marcaram época no século XX e XXI, além de carros contemporâneos e da atualidade. Também pretendo levar alguns desenhos que tenho desde 1995.
OM - São desenhos de quê?
CM
- A maioria também são carros criados por mim, antes elaborados em programas mais antigos como o Paint e agora em mais avançados como o Corel Draw.
OM - Como é fazer desenhos no computador? A dificuldade é semelhante aos desenhados com papel e lápis?
CM
- É como se você me desse um papel em branco e um lápis e me dissesse: "Desenhe aí um fusca". Se você não tiver ideia de como fazer o desenho no papel, também não vai saber fazê-lo no computador. É o mesmo procedimento. Claro que o computador facilita em algumas coisas como a disponibilidade de cores ou a ferramenta borracha que apaga de forma que não se percebe que errou.
OM - E de onde surgiu essa paixão por carros?
CM
- O primeiro carrinho que fiz foi de flandre, pequenininho e de uma lata de doce de goiabada, só para diversão mesmo, não cheguei nem a colocar roda e fazer algum tipo de acabamento nele. Fiz vários carrinhos desse, mas depois adotei o papel por ser mais maleável para trabalhar. Cheguei a produzir vários, mas em 1995 eles já estavam se deteriorando com o tempo.
OM - Quando você começou a fazer esses carrinhos neste formato?
CM
- Em junho do ano passado, uma amiga de trabalho da Ufersa me deu um aparelho de videocassete já bem usado, sabendo que eu gostava dessas coisas antigas. Eu retirei algumas engrenagens e fiz um carrinho que anda para frente e para trás. E desde então tomei gosto novamente a fazer meus carrinhos, que modéstia à parte, estão melhores que os de papel. São mais ricos em detalhes. No início, eu concluía um carrinho em uma semana, hoje, o tempo me ensinou que cada obra tem seu início, meio e fim, então passo em torno de 30 dias para concluir cada um.
OM - Qual a maior dificuldade em montar um carrinho desses?
CM
- A técnica dos carrinhos é toda minha, eu não vi em lugar algum. É preciso só ter muita paciência, pois são várias etapas. Faço o planejamento, corto no papel e depois no alumínio, arranjo as peças e assim vai até terminar. Eu costumo usar o computador apenas para me dar uma ideia do carrinho que quero montar. Num programa eu desenho a lateral de um veículo e dali eu desenvolvo todo o resto manualmente. A partir daquela parte do carro eu visualizo o resto.
OM - Quais materiais você costuma usar na manufatura de seus carrinhos?
CM
- Basicamente papel, alumínio e produtos recicláveis que iriam para o lixo para os acabamentos (mostrando alguns modelos). Essas lanternas nada mais são do que botões de Joystick, também uso teclas de computador, teclas de telefone, fios para instalação elétrica, pedaços de tubo PVC, tampa de desinfetante pode representar uma calota, tampa de lápis hidrocor se transformam em farol; esses estribos foram de um colar que minha irmã me presenteou já sabendo para o que eles iriam servir (risos), tampa de perfume como radiador, lâmpada queimada de retroprojetor viram faróis, embalagem de comprimido são lanternas e muitas outras peças.
OM - Como você consegue arranjar esse material?
CM - Minha irmã às vezes me manda sacos dessas coisas. Às vezes ela diz que compra alguma coisa de dois que é para acabar logo e ela me mandar para eu retirar algumas peças.
OM - Você se baseia por alguns modelos de veículos antigos?
CM - Geralmente eu me inspiro em alguns modelos, como o meu último carrinho, que é semelhante ao Aero Willys, da década de 1960, e têm também outros de outras décadas, de 1930, 1948.
OM - Você pensa em vender algum carrinho?
CM
- Não, nunca pensei em vender. Só faço por hobby. Não costumo fazer um modelo igual a outro porque para mim aquilo se tornaria mecânico e perderia o sentido da exclusividade da obra. E também não compensa. O material é muito barato, mas o trabalho que eu tenho não pagaria. Além do mais sairia um pouco da linha de hobby. Para comércio eu não teria tempo, teria que passar madrugadas trabalhando. E eu gosto de vir aqui na oficina apenas quando me dá vontade, não por obrigação. Fazer por fazer não sai nada. Em fim de semana eu não sento aqui, venho na segunda, terça e quarta e talvez na quinta.
OM - De onde vem à inspiração para esse talento?
CM - Desde criança eu tive uma tendência para fazer desenhos. Inclusive eu tenho aqui um caderno que sobrou do dilúvio (risos). Ele é de 1983 e eu gostava de rabiscar carros, bicicletas, motocicletas, super-heróis são desenhos grosseiros sem uma boa perspectiva.
OM - Já chegou a tirar do papel algum desses modelos?
CM
- Talvez algo semelhante, mas não igual.
OM - Além de artesão você é músico. Como é o Maninho nesse outro meio?
CM
- Nessa área não há espaço para gosto duvidoso. Essa nossa banda não é muito conhecida por as pessoas estarem acostumadas a escutarem músicas ruins. Mas esquecendo isso, 70% do repertório da nossa banda é orquestra e 30% boleros, seria um público mais acima de 40 anos.
OM - Você já tocou em outras bandas?
CM
- Já fiz parte da banda Ultimato, de pop rock, que durou cerca de um ano. Infelizmente, o dono da banda lançou paralelamente uma banda de forró e não deu para conciliar as duas, ele então preferiu acabar com a de pop rock e continuou com a outra, mas também não durou muito tempo, pois o mercado é muito concorrido.
OM - O que a música representa para você?
CM
- Essa atividade é extremamente prazerosa, música é algo muito bom e quando você toca o que gosta é ainda melhor, é gratificante.
OM - O que você mais ouve?
CM - Sou bem eclético. Gosto do estilo orquestra, pop rock, Chico Buarque, João Nogueira, Djavan, Genival Santos e gosto muito de Bartô Galeno, pela sua autenticidade. Nessas músicas bregas eles não usam subterfúgio para dizer a verdade com relação aos romances.
OM - Alguma mensagem para os leitores?
CM
- Eu costumo dizer para as pessoas, que seja lá o que elas façam, sejam naturais. Deixe que as outras pessoas percebam aquele talento que você possui. Nunca queira ser além do que você é, seja simples.

2 comentários:

José António disse...

Bom dia, Maninho!
Bela entrevista!
Você é mesmo um mestre. Muito bom!
Faz miniaturas e toca numa banda. Excelente. Os meus parabéns.

Abraço!
José

Leticia disse...

-
vixee doido, adorei a entrevista, ta massa, e o blog então... valeu pai :)