segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Matéria no jornal Gazeta do Oeste

Matéria veiculada no jornal Gazeta do Oeste, neste domingo, 24/10/2010 no Caderno EXPRESSÃO. Gostaria de agradecer a atenção do jornalista Mário Gerson e os fotógrafos da Gazeta do Oeste. Leiam a matéria logo abaixo, na íntegra.
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GAZETA DO OESTE – 24 de outubro de 2010
Caderno EXPRESSÃO
A arte da miniatura
Mário Gerson - Da Redação
Sabe aquele fone de ouvido que você jogou fora quando ele começou a chiar? Pode ser transformado em um pequeno retrovisor, nas mãos de Carlos Magno Gurgel, o Maninho, como é mais conhecido o tímido artista e servidor público. Digo outro item em que, nas mãos dele, se transforma numa placa superior de táxi: uma pequena tampa de aparelho de barbear descartável. Mas há outros: farol de carro comum = cápsulas de comprimido, de preferência dos amarelinhos. Outro: tampinhas de perfume = tampa de radiador de carro de época. São os mais variados produtos, coisas que todos os dias jogamos fora: fones de ouvido, mouses quebrados, restos de canetas antigas, tampas de ou frascos de remédios, pedaços de papel ou papelão resistente, caixas e outros materiais. O atelier do artista fica num trecho da Seis de Janeiro, no bairro Santo Antônio. Mas é um trecho calmo, diferente do resto da via, quando se desce mais para dentro do bairro. A calmaria do lugar logo denuncia um morador diferente. Maninho tem um pequeno quarto, num primeiro andar onde trabalha, muito silenciosamente. Chega, como ele mesmo confessa, a executar sua arte silenciosa e meticulosa até as duas da manhã. E brinca com a reportagem: "Rapaz, estou vendo a hora a minha senhora me deixar!". Sorri para o motorista e o fotógrafo, todos admirados com a beleza e a poesia presente nos pequenos carros, feitos de alumínio, papel, restos de material de informática, e muita dedicação. Maninho diz que passa cerca de 30 dias trabalhando num carro de época, e que esse tempo pode ser maior se o carro, por exemplo, exigir mais. "Quando ele fica pronto, dá vontade de dizer: ande!", fala, feliz, ao pegar uma espécie de Cadilac verde com detalhes brancos, uma das suas últimas peças feitas para a exposição que acontecerá na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), a partir do dia 27, das 9h às 17h, em comemoração à Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, com o tema Artesanato em papel, alumínio e lixo: miniaturas de automóveis.Maninho iniciou sua arte meticulosa em 1978, quando começou a pensar em colocar em prática as miniaturas dos carros. Mas a arte em sua vida veio aos 16 anos, quando rabiscava em cadernos desenhos que retratavam seu mundo adolescente, como a professora sentada em sua cadeira, numa sala de aula e outras cenas da juventude. Depois, Maninho, que hoje utiliza também a informática para auxiliar seus traços (projetos), começou a colocar suas ideias no computador. São desenhos de motos antigas, carros que ele pretende fazer, projetos de um artista que, depois do expediente na Ufersa, tranca-se em seu atelier e reinventa um mundo pequeno (grande em sua simbologia) e poético. "Quando comecei a fazer meus primeiros carros, utilizava latas de goiabada que, ao invés de estarem na natureza, agredindo o meio ambiente, se transformavam em arte. Hoje, alguns materiais que utilizava àquela época não existem mais. Por isso, tento sempre reutilizar de tudo que me vem às mãos", destaca Maninho. Em 1993, os carros em miniatura eram feitos apenas de papel e material reciclado, mas alguns não suportaram o tempo e outros fatores. Foi então que o artista começou a repensar a fabricação. "Passei a usar, em todos eles, uma estrutura melhor, mais resistente. O alumínio entra nessa fase", diz.Os carros tomam conta de quase todo o atelier, estão muito bem organizados, em uma estante de aço. "Sou apaixonado por carros. E quero destacar que os que fabrico são apenas inspirados em modelos antigos, não são, propriamente, os modelos. Sempre incremento algo, vejo alguma coisa que pode ser colocada, mas o deixando com suas características antigas", comenta, ao mostrar, para a reportagem, um modelo de uma Kombi, onde os retrovisores são baterias de computador e os faróis - acreditem - cápsulas de comprimidos!
"FORNECEDORES? SIM, EU OS TENHO" - E quem fornece, ao artista, a matéria-prima do seu trabalho? Os amigos, os familiares, aqueles que visualizam na arte dele um lugar para a conscientização de que nem todo lixo é, realmente, descartável. "Sempre recebo aqui saquinhos cheios de material: tampinhas de perfume, tampas de lápis hidrocor, baterias de relógio, entre outros. E acontece algo inspirador quando estou fazendo os carrinhos: sei, exatamente, quando pego, por exemplo, numa dessas pecinhas, para onde ela irá. É um estalo, sei lá, uma ideia. Sei onde vou colocá-la. É assim que acontece", explica-se, ao mostrar a mesa de trabalho, repleta de coisas que nunca imaginaríamos como faróis de carro!Exposição contará com 35 carros fabricados a mão, especialmente desenhadosManinho fará uma exposição com 35 modelos de carros de época e Ferraris. Mas também há outros carros, como uma Kombi, um caminhão e um táxi, que foi inspirado no utilizado por Robert De Niro no filme Táxi-Driver (1976, direção de Martin Scorsese). O modelo é quase idêntico: tem as faixas laterais, os retrovisores quase iguais e, na parte superior do carro, um pequeno protetor de aparelho de barbear descartável traz a inscrição: táxi.No início deste mês Maninho expôs em Natal, numa escola da cidade, e recebeu muitos incentivos, principalmente de educadores e estudantes, que ficaram encantados com seu trabalho. "Eu faço isso por hobby. As minhas exposições são o fruto de um divertimento, nada de dinheiro. Quem sabe um dia eu não faça algo em série? Mas acho meio sem graça, isso de trabalhar sob encomenda, quando se é apenas um hobby que tenho. Há pessoas que gostam de desopilar de outras formas, a minha é essa", revela o funcionário público, reforçando que já ofereceram dinheiro pelos carrinhos. "É um hobby, só isso", comenta, com certa simplicidade. "O lixo de alguns para mim é ouro. Eu os transformo em carros!", diz, sorrindo. Além dos 35 carros que serão expostos de 27 a 29 na Ufersa, Maninho também levará para a Biblioteca Central da instituição uma minioficina. Sim, ele reproduziu, em detalhes, o interior de uma oficina, com elevacar, peças, mesa de conserto, estojos de ferramentas, esmeril... tudo tão perfeito que pensamos em voltar a ser criança e mexer na oficina e nos carros de Maninho.

4 comentários:

José António disse...

Excelente reportagem, Maninho!
Parabéns pelo seu trabalho, que vai tendo o seu reconhecimento público.
Grande abraço
José

Dida disse...

Grande Maninho esta reportagem vem coroar você pelo grande artista que é, parabens pela reportagem e grande abraço, Dida

Anônimo disse...

Grande Maninho, eu agradeço muito pelo elogio e são pessoas como você que nos motivam cada vez mais a correr atraz dos sonhos. Obrigado pela visita e estamos sempre nesta parceria. Abraço. www.blogdidas.blogspot.com

Anônimo disse...

Exelente trabalho, Maninho!!!
Sou fã do seu trabalho à muito tempoooooooooo..
Grande abraço.
Mira